• O Evangelho Segundo Jesus Cristo







    Estava revendo os livros que lí nos últimos tempos e me recordei desse em específico. Faz exatos dois anos que lí O Evangelho Segundo Jesus Cristo, do José Saramago. Não foi o primeiro livro dele que lí, mas foi um dos que mais me impressionaram.

    Acredito que não irei falar nenhuma novidade aqui a respeito do livro, mas quero deixar minha impressão sobre o mesmo.

    Ver os personagens que tanto conhecemos da Bíblia em uma visão tão humana é simplesmente fenomenal. Sei que toda a àurea mística, de divindade ao redor deles é o que os fazem especial, toda a magia da história. Mas saber que apesar de tudo eles ainda eram humanos, mesmo que especiais, nisso eu sempre acreditei, e o livro mostra justamente isso.

    O livro é a narrativa direta de Jesus Cristo, o seu ponto de vista sobre todos os fatos e acontecimentos de sua vida. E essa narrativa mostra toda a beleza, a dúvida, o amor, a sabedoria, os conflitos desse homem que a tantos inspira.

    José e Maria é um simples casal da Galiléia, que como tantos se casam sem realmente se conhecerem, mas se tornam cúmplices e amigos, e nesse ambiente, mostra toda a riqueza de cultura do povo daquela época.

    E a melhor parte certamente é quando Jesus se vê no meio do mar, em um pequeno barco, apenas com o Diabo e Deus ao seu lado, e ele passa a avaliar todos os prós e contras de cada um, a discussão entre eles, o Diabo sendo compreensivo, não invasivo, enquanto Deus tenta de todas as formas ganhar os pensamentos de Jesus, vemos então a inversão dos papéis reais. Acredito que essa seja a parte dita como mais ofensiva por aqueles que dizem que o livro é uma narrativa herege.

    Entretanto, não vejo nada de herege ou errado nesse livro, transformar em ficção uma história já conhecida por todos não fará ela se tornar verdadeira e subjulgar a real. O livro serve para mostrar que apesar de tudo Jesus foi um homem também, e que assim esteve sujeito a erros e dúvidas, e que mal há nisso? Sempre achei que um Jesus mais próximo do que somos seria mais aceitável do que algo inatingível, pois sendo ele igual a nós, temos assim um modelo de conduta, algo que podemos seguir, palpável, fácil de alcançar, e não apenas uma pessoa mística, cujas habilidades estão além dos nossos limites.

    Quem se interessar eu recomendo, pois é uma leitura excepcional.

2 comentários:

  1. Andão disse...

    Esse eu releio sempre. Não inteiro, nem em sequencia, mas sempre. E o debate no barco é um deleite: Deus, Jesus, o diabo e toda a história da Igreja Católica, com seus mártires e sacrifícios, sendo desnudada aos olhos do Cristo mais humano alguma vez trazido à literatura e reduzido em palavras. Isso sem contar que que o livro foi deliciosamente escrito em português, garantia de que seu sabor não foi comprometido por meio de uma tradução requentada.

  2. Devaneios disse...

    Sim, esse trecho é a melhor parte do livro sem dúvidas.