• A Decisão


    Jacob estava agora sentado no telhado de sua casa, logo acima a Lua, sua luz prata que dava vida a escuridão da noite. Quantas vezes ele subira até ali para pedir conselhos a Lua, quantas vezes esperou que ela iluminasse seu vazio e negro interior. Agora ela estava ali, muitas vezes o fizera desistir de seu propósito, mas esta noite não, agora era diferente, ele estava decidido e nada o faria mudar de idéia.

    Podia sentir o cheiro das árvores e plantas, uma mistura de jasmim com eucalipto, que eram as plantas existentes no bairro, pôde ouvir o barulho das asas das corujas que voavam em busca de alimento. O ar estava fresco e úmido, pensou “Vai chover amanhã”, mas de que lhe importava isso.

    Logo adiante, na mesma rua, uma casa ainda estava com suas luzes acesas. No segundo andar, encostada a uma janela, uma jovem estava aflita, o telefone ainda em suas mãos, mesmo depois que desligara ela continuara com ele, sua mente tentava entender o porque, tentava pensar em uma maneira de mudar o que estava para acontecer. Sentia que seria sua culpa por não ter feito nada, agora seus olhos estavam molhados, ela tenta mais uma vez telefonar “Atende por favor”, mas nenhuma resposta, apenas o toque do telefone, ela olha pela janela, vê a Lua e implora “Me ajude, ilumine meus pensamentos, o que eu posso fazer?”.

    Ele olha novamente para a Lua, olha depois para as casas ao seu redor, vê lá no fim uma casa com a luz acesa “Ela ainda tem esperanças, me perdoe Alice”. Novamente ouve o telefone tocar “Me desculpe”, ele desce, volta para seu quarto, está tudo escuro, apenas uma luz fraca vermelha se encontra próximo a sua cama, ele se deita, sente o perfume dela “Rosas, ela sempre gostou de rosas”. Ele recorda sua vida, toda a dor que passou, fora abandonado quando criança, no orfanato seminarista sofria abusos sexuais, até que decidira fugir e fora acolhido por uma velha senhora. Estudou, cresceu e a um ano se formara em advocacia, conhecera Aline na Universidade, eram amigos, começaram a namorar e em breve se casariam, sua mãe adotiva estava bem até poucas horas atrás quando sofrera um ataque cardíaco e morrera. “A culpa foi minha” ele começou a chorar. “Garoto que idéia absurda é essa? – Eu vou sim é uma grande oportunidade pra mim – Pra quê, pra você morrer? – Vou poder lhe retribuir tudo o que fizera por mim – Meu filho, não tens que retribuir nada, e isso é ilegal – Não eu o farei”, segundos depois sua mãe caía em seus braços “Mamãe? Mãe? Jacob vamos levá-la ao médico”, eles saem correndo para baixo, chamam um táxi, vão até o hospital mas já era tarde. “A culpa foi minha – Não, você não teve culpa – Porque ela e não eu? – Pare de dizer bobagens” ele sacode a cabeça para espantar as lembranças.

    Ela está decidida a ir até ele “Eu farei ele mudar de idéia”, ela sai de casa, os olhos vermelhos e molhados, ela segue zonza “Preciso chegar até ele”, sua cabeça está doendo. Ela escuta no vento “Me desculpe” ela olha em volta “Não” corre até a casa dele, ao chegar no portão escuta um disparo “Ele não pode ter feito isso”, ela corre sobe as escadas da entrada, abre a porta, olha a escada em caracol a sua frente. Ela sobe.

    Ele se levanta, vai até a escrivaninha, abre a gaveta, junto com alguns livros está uma arma, ele a pega, vira a arma e a visualiza de todos os lados, então dá um longo suspiro e diz “Me desculpe”, ele puxa o gatilho.

    Ela está no fim da escada, olha o longo corredor a sua frente, vai caminhando até o quarto, abre a porta, ele está caído no chão, sangue por todo lado, a arma em sua mão e seu peito perfurado “Porquê Jacob? Porquê?” ela se senta ao lado do corpo, tira os cabelos que estão caindo sobre a face dele, enquanto o sangue se espalha, ela chora e a única testemunha daquele momento é a Lua.

0 comentários: